O post mais sério da história do blog

Já fui apresentada a várias pessoas em eventos. Muitas vezes ouvi isso:
— Essa é nossa palestrante Emanuelle Sales. Você já a conhecia?
— Não. Mas conheço seus textos!

Acredite, com você acontece exatamente o mesmo. Talvez não pelo que você escreve, mas com certeza por algo que faz ou por algo que você é. É óbvio que quem não nos CONHECE intimamente vai tirar conclusões ao nosso respeito pelo que VÊ. Pode ser que nossa imagem e comportamento passem uma impressão equivocada, por isso cabe a nós ficar atentos a cada detalhe do nosso “cartão de visita”. “O homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (I Samuel 17:7). Só Deus vê o coração, o homem não tem o dom enxergar a alma, por isso o que expomos à humanidade é primeiramente nossa carcaça: aquilo que vestimos, aquilo que falamos, aquilo que postamos na internet. Em I Timóteo 2:10, lemos que nossas obras são nossos maiores enfeites. O que as pessoas diriam sobre você? “Eu não conheço a __________, mas conheço o que ela faz: ________________”. Não se incomode ao perceber o quanto você é observada, pois todos que fazem parte da realeza estão em lugar de destaque. Esta exposição não gera facilidades.

Há um tempo recebi uma mensagem bastante triste, porém muito realista, após uma das publicações sobre o uso de joias:

“Sou cristã, membro da igreja Batista, porém tenho acompanhado alguns programas na TV Novo Tempo e também lido alguns textos a respeito da Igreja Adventista. Às vezes fico indignada com a questão do não uso de joias pelas mulheres adventistas, porque  algumas dessas mesmas mulheres tem um comportamento tão carnal que supera ao uso de jóias. Por exemplo: na minha cidade, é comum vermos as irmãs se trajando de maneira tão inconveniente, usando roupas coladas e curtas, blusinhas sem manga, seios e costas à mostra, etc… O mesmo Deus que reprova o uso de joias é o mesmo que reprova a imoralidade e a indecência. Fala-se tanto sobre a questão do sábado e do uso de joias, mas e quanto à questão das vestimentas? Na verdade, no que se refere a testemunho cristão, é uma lástima.”

Perceba que a seguidora não quis em momento nenhum usar o erro dos outros para justificar outras possíveis falhas. Ela apenas está confusa quanto ao comportamento e testemunho cristão de uma Igreja que gostaria de conhecer melhor. As atitudes das pessoas fizeram com que questionasse se deveria mesmo admirar e buscar conhecer mais esta religião. Depois, um dia desses, recebi outro e-mail que me fez ter vontade de compartilhar um trechinho dele com vocês:

“Gostaria de visitar uma [Igreja Adventista], mas queria que fosse como a de vocês, pois tem umas pessoas que são da IADS no Instagram que não se portam como vocês. Parece que querem mostar mais uma vaidade”.

Essa mesma moça me disse que começou a seguir no Instagram algumas meninas e mulheres que enviavam looks para o Instagram do @bonitaadventista, pois queria se inspirar nelas para se portar melhor como cristã:

“A princípio o que me chamou atenção foram os looks, pois achei que poderiam ser uma inspiração, pois sempre procuro páginas cristãs para ter ideias. Depois vi que em algumas fotos estava mais exposta, como na academia e tal. Sei que vocês são bem fintess, mas achei desnecessária TANTA exposição… Gostaria mesmo de saber se Adventista tem várias ou uma só”.

Só esta última frase já faz a gente sentir um soco no estômago, né? Eu poderia explicar a ela que pessoas não podem ser nosso modelo de vida, que devemos ir à igreja por Deus e por princípios, e não por seus membros. Mas como ignorar a influência da nossa postura? Como dizer a ela que toda Igreja é inútil se o foco não for Jesus, se o próprio Jesus pediu que a fôssemos seus representantes? Se você pudesse ler a mensagem completa que ela me mandou, saberia bem por que resolvi escrever este post. Com toda sinceridade do coração ela queria saber qual “segmento” ou “ministério” era a Igreja Adventista do blog, pois era este que gostaria de visitar.

O mesmo acontece quando milhares de pessoas procuram pela “Igreja da Novo Tempo”. Elas veem a forma maravilhosa como o cristianismo é mostrado pela emissora, descobrem as maiores verdades bíblicas através dela e depois desejam fazer parte desse povo que segue e prega a Palavra de Deus. Ao finalmente encontrarem uma IASD e decidirem visitá-la — às vezes esta decisão demora meses ou anos para ser tomada — elas se deparam com a mesma filosofia que viram na TV e ouviram no rádio, mas também se deparam com pessoas… apenas pessoas. Elas se deparam com erros, falhas e, claro, gente lutando pra ser melhor e gente que prefere o comodismo. Deus é tão maravilhoso que consegue mostrar que a Igreja Adventista tem princípios sólidos e divinos, ainda que seus membros sejam pessoas… apenas pessoas. Quando olho pra mim, por exemplo, vejo um ser humano decepcionante.

Muita gente está nos bastidores trabalhando arduamente para que pessoas do mundo inteiro decidam finalmente entrar pelas portas da igreja. É muito suor, lágrimas e orações para que esse dia finalmente chegue. Que a gente não seja um elemento que espanta ou confunde as visitas e admiradores da nossa crença. “Ai do mundo, por causa das coisas que fazem tropeçar! É inevitável que tais coisas aconteçam, mas ai daquele por meio de quem elas acontecem!” (Mateus 18:7).

“Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão” (Êxodo 20:7). Quando vejo as pessoas dizendo que este mandamento quer dizer que não se deve falar “ai, meu Deus’, me dá dor de barriga. É claro que não vamos inserir um nome sério e santo em declarações sem sentido e em momentos bobos, mas a coisa é mais profunda do que as pessoas pensam. Tomar o nome dEle em vão é carregar o título de cristão sem agir como um. É falar que conhece Deus, mas esquecê-Lo em cada esquina. É falar que o encontra nas suas ondas de fé, e não na Palavra. É falar que O contempla, mas não permitir ser moldado por Ele, como diz a música:

Não fale (Os Arrais)

Não fale que o conhece se o esquece em cada esquina
Não fale que o encontra nas suas ondas de fé e não na palavra, não na palavra
Que falta hoje é fé na palavra, que muda quem eu sou não deixa nada
Amando o que é de Deus deixando o mal que tanto amei

Pois se tenho a Cristo tenho a verdade, sim
No ‘assim diz o Senhor’ e não no ‘eu acho que’

Não fale que o conhece se o esquece em cada esquina
Não fale que o encontra nas suas ondas de fé e não na palavra, não na palavra
Que mais há hoje é graça sem juízo, que traga amor e paz sem compromisso
Seguindo tradições de homens, não de Cristo

Pois se tenho a Cristo tenho a verdade, sim
No ‘assim diz o Senhor’ e não no ‘eu sinto que’

Há uns sábados, o jovem pastor Lucar Rodor, que é auxiliar na minha igreja, fez uma pregação direta e reta, dizendo que “somos uma geração de perdidos”. É só reparar em quantos vão para os cultos, mas estão com a mente um Júpiter mexendo no celular, conversando com os amigos ou com a expressão de tédio. Quantos são cheios de opiniões bíblicas, mas sem leitura bíblica e estudo diário. Quantos pagam caro para sentar em lugar privilegiado em shows e programas de entretenimento, mas sentam na última fileira da igreja em cultos comuns. Quantos dizem que Deus é tudo em sua vida, mas o colocam abaixo de seus desejos e hobbies. Ser cristão não é ser perfeito, mas é não se acostumar com a imperfeição. É não aceitar o comodismo. Jesus disse: “Toma tua cruz e segue-me”, e não “arrume as malas que vamos para a Disney”. Se está fácil, talvez você esteja em outra viagem, em outro caminho.

A Igreja não é uma instituição.
A Igreja não é uma religião. A Igreja é você.