Os menos inteligentes

Os menos inteligentes

Uma reflexão sobre burrice e inteligência

Revista Veja, Editora Abril, edição 1814, ano 36, nº 31 de 6 de agosto de 2003

Você já teve a impressão de que seu chefe, seu supervisor ou seus colegas de trabalho estão ficando menos inteligentes a cada ano que passa? E que essa onda está afetando inclusive você? Você tem a impressão que o mundo está cada vez mais difícil de entender? Se você está se sentindo cada vez menos inteligente, fique tranquilo, estamos todos emburrecendo a passos largos, inclusive eu. Explico o motivo. O conhecimento humano está aumentando explosivamente. Antigamente o conhecimento humano dobrava a cada trinta anos. Hoje, ele dobra a cada nove meses.

emburrecendo

Embora coletivamente o mundo esteja ficando mais inteligente, individualmente estamos ficando cada vez mais burros. Cada um de nós sabe menos do todo, justamente porque o todo está crescendo explosivamente. Como conseguir sobreviver num mundo destes se tecnicamente não dá para acompanhar este crescimento enorme do conhecimento humano? Antigamente, para dirigir um carro você precisava entender de mecânica para poder chegar até o final da viagem. Hoje, basta saber ligar o motor. Computadores supercomplicados que requerem exímios programadores são feitos à prova de idiota, graças a Deus! Em menos de quatro horas você já começa a dominá-lo. É justamente por isso que sobrevivemos. Equipamentos incorporam conhecimento que antes precisava estar bem aprendido e à disposição do nosso cérebro. Por essa Darwin não esperava, pela sobrevivência dos menos inteligentes.

Se você ler três livros por mês, dos 20 aos 50 anos, serão 1.000 livros lidos numa vida, que nem chegam perto dos 40.000 publicados todo ano só no Brasil. Comparado com os 40 milhões de livros catalogados pelo mundo afora, mais 4 bilhões de home pages na internet, teses de doutorado, artigos e documentos espalhados por aí, provavelmente seu conhecimento não passa de 0,0000000000025% do total existente. Aristóteles, 2.500 anos atrás, provavelmente sabia 90% do conhecimento existente na época, uma bela diferença! Hoje, Aristóteles estaria tão perdido quanto nós ou um pouquinho menos, talvez.

Este fato tem enormes consequências econômicas, sociais e políticas. Por exemplo, ainda há muito intelectual inteligente que acha que tem o direito de mudar o mundo só porque já leu 5.000 livros. Algumas vezes menos do que um, metade do Das Capital. É muita arrogância e pretensão. Mesmo assim, ainda sobrevive a ideia de que o Brasil precisa de intelectuais superesclarecidos governando nossas vidas. O que hoje não faz o menor sentido, é até uma ideia extremamente perigosa.

Como sobreviver num mundo onde cada um de nós só poderá almejar saber 0,0000000000025% do conhecimento humano ou até menos? O segredo é cada um se esforçar para saber 100% de um pequeno nicho, uma parcela mui, mui pequena do conhecimento humano. Não basta mais saber 90% de uma única matéria acadêmica. Você precisará saber 100% de algo que seja útil para os outros. Não há dúvida de que ter noções gerais de tudo o que é importante é necessário para a sua cultura geral e prazer na vida, mas cultura geral não lhe trará emprego. Para ser útil para a sociedade você vai ter de ser o maior especialista do mundo num assunto específico e vender o que sabe fazer bem aos demais miniespecialistas do planeta, e vice-versa.

Nas horas vagas você poderá falar de generalidades, para manter o convívio social. Mas no dia-a-dia precisamos de gente que entenda a fundo do seu assunto e não de quem tem uma vaga ideia de tudo. Quantos alunos se formam especialistas em coisa alguma? Infelizmente, as universidades hoje em dia produzem commodities. Preferem formar generalistas, porque é bem mais barato do que formar especialistas. Faculdades especialistas precisam de imediato fazer pesquisas, ser criadoras de conhecimento, precisam ser centros de excelência em alguma coisa. Quantas faculdades privadas fazem pesquisa original neste país? Quantas ensinam coisas novas? Faculdades oferecem basicamente o mesmo curso todo ano, obedecendo a um mesmo currículo, chamado de mínimo. Não é à toa que há tanto desemprego.

Curiosamente, o segredo daqui para a frente é ignorar uma série de leituras, publicações e jornais que você lia anteriormente, porque simplesmente não dá mais para acompanhar tudo o que se passa no mundo. Alguns vão achar engraçado o que vou dizer, mas basicamente você vai ter de se tornar um ignorante, alguém que deliberadamente ignora milhares de informações todo dia. O segredo não é mais ser um intelectual que sabe um pouquinho de tudo, mas ser um ignorante que sabe tudo sobre um pouquinho.

Achei interessante e quis compartilhar com vocês!

por Emanuelle Sales

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