Não finja que não vê…

Muitas vezes olhamos tanto para os nossos próprios sofrimentos e nos esquecemos de olhar para o sofrimento de quem está ao lado. O mundo parece girar em torno de nós. Exigimos, inconscientemente, que  todos nos deem atenção e enxerguem o quanto estamos angustiados. E por sentirmos tanta auto-piedade, nem sequer ouvimos o suspiro ou o grito de desespero das pessoas ao nosso redor, muito menos as enxergamos. Olhamos apenas para nós mesmos e parecemos dizer: “Veja como estou sofrendo!”

Se todos nós seguíssemos o exemplo de Jesus, nosso sofrimento seria menor ou desapareceria por completo. Ele, mesmo em meio a dor, sempre teve um gesto, um olhar, uma palavra de esperança e amor a todos que O cercavam. Ninguém saía de Sua presença com coração e mãos vazias. Suas palavras e ações eram qual bálsamo que aliviavam e curavam quaisquer angústias e sofrimentos.

Certa vez, ouvi uma linda história que quero dividir com vocês neste post:

Havia uma senhora de muitas posses que perdera seu único filho. Todos os dias, sem falhar nenhum sequer, pedia ao seu motorista particular que a levasse até o cemitério, onde seu filho jazia. Como tinha dificuldades de locomoção, chamava o coveiro e lhe entregava uma quantia em dinheiro, passando-lhe ordens para fizesse a manutenção do túmulo de seu filho e que comprasse flores para enfeitá-lo. A cada dia que passava o ritual era mantido, e aquela senhora sucumbia olhando para o sofrimento que a perda trágica do filho lhe causava. Aquele sentimento de auto piedade lhe minava a alma e a saúde cada vez mais, fazendo com que seu luto fosse eterno. A vida lhe perdera a graça e parecia não haver alguém no mundo que sofresse mais do que ela.

Depois de muito tempo, resolveu que naquele dia deveria descer do carro e verificar como estava o túmulo do seu filho. Arrastou-se com muita dificuldade para fora do carro e com ajuda do seu motorista encaminhou-se até o local do jazigo. Para sua surpresa e espanto, o túmulo estava bem cuidado, mas não havia ali nenhuma melhoria e nem uma flor sequer. Esbravejou, gritou e causou tal alvoroço que chamou a atenção de todos que estavam ali. O coveiro aproximou-se e, vendo a cena, calou-se, e serenamente ouviu todas as broncas enfurecidas daquela senhora. Quando ela terminou de falar, ele calmamente a olhou no fundo dos olhos e disse:

— Minha senhora, não quis de maneira alguma ofendê-la ou usurpá-la de seu direito, ficando com o dinheiro que me confiava durante todo este tempo. Na primeira vez que a senhora trouxe o dinheiro, estava indo até a floricultura para comprar as flores que pedira, e no caminho vi uma jovem mãe que chorava desesperada pelo filho que há dias não tinha o que comer. Então achei que o alimento que salvaria aquela criança da morte seria mais importante do que flores para o túmulo de alguém que, embora querido e amado, já não podia desfrutar do seu perfume. Na segunda vez, encontrei um senhor ferido que precisava de cuidados médicos e remédios, e agi da mesma maneira. Não foi minha intenção magoá-la ou feri-la. Cuidei do túmulo de seu filho todos os dias, deixando-o impecável, mas apliquei o dinheiro em prol dos pobres e desesperançados com quem tenho contato todos os dias. E mesmo sem saber, a senhora pôde ajudá-los cada um destes dias.

E assim, após refletir profundamente naqueles dias de afastamento, chamou seu motorista, e novamente voltou ao cemitério. Daquele dia em diante, ela mesma quis ajudar o coveiro a continuar seu trabalho assistencial. Ao deixar de sofrer a própria dor, passou a sofrer a dor dos outros. Sua vida mudou… para melhor! Que sejamos pessoas que param junto aos que sofrem, que olham para os feridos e sintam a dor que sentem, que não aceleram os passos ou desviem o olhar. Pessoas que não finjam empatia ou evitem falar sobre a dor que está incomodando os que sofrem, mas pessoas que enxerguem, que olhem nos olhos e que realmente vejam as pessoas em seu interior.

Faça algo enquanto há tempo.
Pense nisto e tenha um final de semana mais feliz!