Do lar e livre

Do lar e livre

O assunto do momento

Antes de ler este post, saiba que acredito sim ter havido um tom machista na capa da revista Veja, como se a mulher ideal devesse ter determinado estereótipo. Porém vale dizer que quem declarou Marcela Temer como “recatada e do lar” não foi o jornalista, mas sim a irmã dela em entrevista. Talvez tenha sido de mau gosto a revista ter escolhido esta citação como manchete. É importante saber que nada acontece por acaso quando se trata de política e comunicação. A matéria certamente foi planejada para atrair um público bem específico. Mas fiquei incomodada com os tipos de manifestações à favor da igualdade e dos direitos da mulher. Vi muita gente fazendo isso menosprezando a função da mulher do lar, diminuindo seu valor. Achei extremamente contraditório defender a liberdade feminina de tal modo. Decidi compartilhar o texto a seguir não para falar sobre a atitude jornalística, mas para abrir a mente quanto à reação do público quando o assunto é o feminismo.

Bela, recatada, do lar e livre
(por Fábio Marchi)

Eu pensava que o feminismo fosse um movimento criado para garantir os direitos e liberdades – inclusive a liberdade de ESCOLHA – das mulheres, em relação à sua vida e ao seu destino – inclusive optar por ser bela, recatada e do lar. Para início de conversa, muitas pessoas nem sabem o que é o significado da palavra “recatada”: pessoa que tem modéstia, que é prudente ou sensato – reservada, tímida, envergonhada. Foi a irmã de Marcela que classificou-a com esse adjetivo, por conhecer a personalidade e a forma de ser de Marcela – pois acreditem, amiguinhos e amiguinhas: mulheres tem características individuais diferentes, sabiam? E todos nós respeitamos essas individualidades, características de personalidade e opções de escolha, não é mesmo?

Agora eu pergunto: qual o problema em uma mulher jovem e bonita optar por uma vida caseira e reservada? Estaríamos felizes com ela aparecendo bêbada ou drogada em baladas da high society paulistana? Adoraríamos ver suas fotos pagando pepeka saindo de um carro, por conta de um microvestido? Ela não tem um personal trainer gostoso e saradão para insinuarmos belos chifres em seu marido de 75 anos? Ahhhh, que decepção, Marcela!

Cansei de ver manifestações do tipo “o corpo é meu e faço o que quiser com ele”, mas parece que isso só vale para a promiscuidade – SE a mulher optar por uma vida monogâmica e caseira, o mundo na terra brasilis desce ladeira abaixo. Isso não pode! Isso vai contra tudo o que lutamos até hoje! Enquanto vocês ficam dizendo aí que a revista “está tentando impor um padrão de comportamento ideal”, tal qual aquelas pérolas que eram publicadas nos anos 50 e 60, poucos observaram que na verdade a jornalista DEBOCHOU do way of life de Marcela Temer. Sim amiguinhas, é deboche. O deboche começa logo no título da matéria, quando a jornalista ironizou o termo, como vocês podem perceber pelas aspas em torno da palavra, no título.

Deboche apenas porque a moça resolveu se comportar como alguém da realeza britânica, que boa parte de vocês admiram: elegância, educação, comportamento. Mas é lá na Inglaterra, né? Lá pode, aqui não. Aqui é Brasil, a terra da popinha da bunda aparecendo no shortinho e peitões pulando para fora do decote. O padrão aqui é OUTRO!

Eu até entendo o medo que vocês têm de prosperar o comportamento de mulheres do tipo “Amélia”, tão idealizada nos “anos dourados”. Porém, milhões de mulheres no Brasil vivem uma vida doméstica e caseira, em uma situação igual à de Marcela. É claro, comparar sua fama, dinheiro e poder com todas essas mulheres seria de uma covardia imensa – mas acreditem, são os únicos fatores que diferem Marcela de todas elas: cuidar de casa, do marido e dos filhos é o que todas elas fazem – inclusive Marcela. Imagino que isso – para uma mulher feminista – é realmente algo a se temer (sem trocadilhos).

O certo é que vivemos em uma época onde a mulher possui – sem sombra de dúvidas – um grande leque de opções graças à sua liberdade de escolha. A mídia é claro, vende seu peixe como pode: mulheres artistas, celebridades, funkeiras, acompanhantes de luxo, modelos, políticas: tudo que é exposto pela mídia é um produto para consumo das próprias mulheres, que imitam cortes de cabelo, vestidos, sapatos, maquiagem, dietas, segredos de beleza, comportamento e o que mais puderem imitar.

E depois, cansei de ver matérias explorando cada qual seu “ideal” feminino de vida: a mulher executiva, a política, a celebridade e todos esses estereótipos de mulher moderna. Algumas compram essa idéia, outras não – consome quem quer. Afinal de contas, estamos no século XXI, e é a MULHER e tão somente A MULHER, que decide sobre sua vida. Sou seu parceiro, não seu dono.

 

por Emanuelle Sales

2 Comentários

  1. Daisy Rogaciano Costa

    Concordo que o movimento feminista deve lutar pelo poder de escolha da mulher, seja essa escolha qual for: inclusive ser bela, recatada e “do lar”. A grande indignação que se seguiu à matéria publicada pela revista não é ao modelo de vida escolhido por Marcela Temer, mas sim a exaltação deste estilo em contrapartida a uma série de matéria desta e de outras revistas que menosprezam a figura feminina da presidente do país, destacando principalmente as características avessas ao “bela, recatada e ‘do lar'”. O alvo da indignação não foi Marcela Temer, quem achou isso é porque não entendeu nada.

    25 de abril de 2016 @ 17:49
    • Percebi também essa exaltação do mulher do lar, como vc disse. Quem a considerou recatada e do lar não foi o jornalista, mas sim a irmã dela em entrevista. Pode sim ter sido de mau gosto o jornalista ter escolhido essa citação como manchete. Ah, o objetivo deste post nem foi contrariar essa ideia do feminismo, mas sim alertar quanto à reação das pessoas em respeito da luta pela igualdade. Obrigada pelo comentário relevante. Bjo

      26 de abril de 2016 @ 13:38

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